quarta-feira, 22 de abril de 2009

Viagem Pela América do Sul de Motocicleta



Saímos de Florianópolis no dia 03 de março de 2009 pela BR101 até Curitiba e rumo a oeste, Irati, Laranjeiras até Foz do Iguaçu. A estrada do Paraná, BR 277, é muito boa mas tem muito pedágio, as vezes a cada 50km. Aconteceu um quase acidente com o Ernani, soltou um pedaço de pneu recauchutado de um caminhão, depois de um estampido muito forte, um bloco de borracha voou, um caminhão que estava na frente do Ernani passou por cima, amortecendo o golpe e bateu na roda da frente da moto dele, tivemos que parar na cidade mais próxima para desentortar o aro. Muito calor na estrada o que foi uma constante em toda a viagem. Passamos direto por Foz, atravessamos a Ponte da Amizade com muita gente indo e vindo, carregando mil coisas, centenas e centenas de motoboys, parece uma cidade da China ou do Vietnã. Vamos para Asunción, lá ficamos no hotel Los Alpes, Av Santa Tereza 2855, um bom hotel, o dono é motociclista.

Ernani e a sua Shadow

6 de março de 2009 – Km 1737 – Asunción a Las Lomitas, Argentina
Saímos de Assuncion muito tarde, por volta das 11h. Estradas boas e tranqüilas. Pegamos a Rodovia Transchaco e rumamos para a Argentina, seguindo para Clorinda, Formosa e Piriné. Dormimos no meio do caminho, em Las Lomitas. O próximo posto de combustíveis fica a uns 160 quilômetros. A próxima cidade é Embarcación, a mais de 300 quilômetros, e é preciso observar a autonomia da moto. São 320 km sem posto de combustível. Esse trecho de estrada é muito bom, a estrada é nova e aparece em todos os mapas como não pavimentada em uma grande parte. De Embarcación a Salta é um pulo – 246 quilômetros em estrada excelente.

7 de março de 2009 – Km 2453 – Salta
Salta, cidade antiga de construção típica espanhola, muito parecida com Havana em suas praças, prédios e ruas centrais. Sábado a noite, jantamos em um restaurante na praça central, enquanto isso assistíamos algumas noivas saírem da igreja para tirar fotos na praça.
Casamento em Salta, Argentina

De Salta a Jujuy, fizemos o caminho de La Corniza, atravessamos uma pequena serra, muito sinuosa, debaixo da maior chuva. Encontramos três argentinos com suas Vespas. Eles disseram que iam conhecer o norte da Argentina. Acho que vão rodar uns 6000 quilômetros em cima daquelas motinhos.
Ernani com um dos jovens argentinos do Clube da Vespa de Buenos Aires



Mais tarde os encontramos em Tilcara onde conhecemos o Rogério, a Lu e a big trail 1200 deles.

O Ernani com o Rogério e a Lu, nossos parceiros até Vila La Angostura na Argentina

8 e 9 de março de 2009 – Km 2550 - Jujuy
Jujuy, chuva e chuva. Rodei pela cidade, um museu histórico. Jujuy e Salta foram muito importantes na luta pela independência e demarcação das fronteiras ao norte da Argentina. A prata era extraída das minas de Potosi, na Bolívia, e levadas para Buenos Aires via Salta-Jujuiy, e essas cidades se tornaram prósperas. E-mails em dia. Notícias para todos. Trouxe várias camisetas, mas estou usando direto uma de ciclismo. Tem três bolsos nas costas, cabe um monte de coisas e está sempre seca no corpo. Da próxima vez, vou trazer mais. E tem outro bom motivo: ficam muito elegantes para dar uns passeios.
Troca de óleo na oficina do Rodolfo Perez. Era ciclista de estrada. Conversamos animadamente sobre bicicletas e acabou não querendo cobrar o serviço.

Saindo de Jujuy com chuva, passamos por Tilcara, onde tem um jardim botânico bem cuidado e construções pré-colombianas em patamares, casas e vielas voltadas para uma paisagem deslumbrante, montanhas coloridas e um vale, do ponto mais alto do que acho que era uma cidade ou povoado.
Pirâmide Inca em Tilcara, norte da Argentina

Há uma pirâmide cercada pela paisagem como se fosse uma saudação a um lugar único. Em seguida, fomos a Purmamarca, também cercada por montanhas coloridas. O dia estava nublado mas rendeu algumas boas fotos.
Foto estradeira em Tilcara

Muito turismo, artesanato, folhas de coca para vender. Rumamos para Susques, última cidade argentina antes do Chile. Os relatos que tinha lido falavam da altura de 4.800 metros na passagem para o Chile, no Paso Jama. Não sabia que antes de chegar a Susques tem um ponto com 4.170 metros.
Pensava que seria um passeio, mas foi muito pesado, subimos com uma neblina forte e frio. Tive que parar para colocar calça e luvas impermeáveis. A moto fazia muita força, marchas 3ª e 4ª. O Ernani parou uns sete quilômetros antes do topo. Esperei por ele no marco (4.170), mas soube que havia voltado.
Tivemos algumas dificuldades no percurso de Purmamarca a Susques, Argentina

Segui para Susques. Logo a paisagem mudou. Tempo limpo. Começo a descer até uns 3.400 metros e estamos na Puna, com grandes extensões de planícies e no horizonte montanhas nas tonalidades verde e vermelho. No meio disso tudo, um grande salar, a estrada passa no meio e dá para fazer caminhadas. Chegam turistas de todas as cidades próximas. Parei para conversar com um casal de ciclistas suíço, num retão interminável. Conversamos em espanhol.
Casal de ciclistas suiços perto de Susques, Argentina

Amanhã de manhã, eles vão chegar em Susques. Vão dormir na barraca. Logo que cheguei a Susques o Ernani apareceu. A moto dele tinha apagado. Ele voltou um pouco, tirou o filtro de ar e retomou o caminho. Um probleminha de viagem que acabou bem.


Passagem Susques – o Renato passou no dia seguinte: Muita chuva e neblina, 3 graus negativos, pensou que se a moto parasse ia morrer de hipotermia, disse que nesse momento se sentiu corajoso, foi quando viu um ciclista pedalando no meio daquele mau tempo. No dia seguinte, a estrada foi fechada.
Renato de Moji das Cruzes, no Atacama

Dica Paso de Jama – É aconselhável dormir em Susques e sair cedo. Se acontecer alguma coisa dá tempo de conseguir socorro antes do anoitecer. Nunca tentar atravessar à tarde. Coloque umas folhinhas de coca na bochecha para evitar dores de cabeça e enjôos na subida. São 4800 metros de altitude, faz muito frio e o ar é rarefeito.Hotel Pastos Chicos em Susques, Argentina

10 de março de 2009 – 2807 quilômetros – Susques
Saímos de Susques às 9h, com grande expectativa de passar pelos 4.800 metros. Tanque cheio, a 120 quilômetros no Paso Jama tem um posto inaugurado há pouco mais de um mês. Começa a subida e a paisagem continua deslumbrante. E aquela dúvida: seguir ou parar para fotografar. Parei muito pouco, fotografei vários ciclistas, todos europeus. Um casal de suíços e um grupo de americanos subiram o Paso de Jama até a fronteira com o Chile equipados com “Merida”, a marca das minhas bicicletas, o que é digno de registro.
Ciclistas americanos no Paso Jama, Chile

Grupo de ciclistas alemães na Puna, altiplano chileno

Tranquilos a mais ou menos 3600 metros de altitude, a 200k da cidade mais próxima.
Mais um pouco e chegamos ao ponto mais alto. Tudo perfeito. Uma longa descida até São Pedro de Atacama.

11 de março de 2009 Chegada São Pedro de Atacama – Km 3107
Aduana chegando em São Pedro de Atacama

Chegamos à cidade pouco depois do meio-dia. Muitos europeus e alguns brasileiros, motociclistas indo para o encontro de Harley Davison em Mendoza, Argentina. Cidade no meio do deserto, não chove nunca, mas, surpreendentemente, à tarde o tempo ficou carregado e choveu à noite. Fiz fotos de um arco-íris.
Arco-íris em São Pedro de Atacama

No dia seguinte fui numa excursão ao Vale da Lua com a bela surpresa de uma chuva no final do passeio.

Ficamos na Hostal Quinta Adela. Casa de família, todos muito simpáticos e quarto agradável. Não precisa de ar-condicionado. Só um bom cobertorzinho. Ficamos três dias em São Pedro. Conhecemos toda a cidade e seu ritmo de entra e sai de turistas.

14 de março de 2009 Saída de São Pedro – Km 3223 a Taltal
Saímos em direção a Antofagasta, via Calama, onde tem a grande mina de cobre a céu aberto. Acho que é o verdadeiro deserto de Atacama, extremamente desolado, construções abandonadas pelo caminho, centenas de túmulos na beira da estrada – alguns arrumados com bandeiras, retratos e flores; outros simplesmente com pedras empilhadas e uma cruz. Rodar e rodar. Dá um pouco de medo de parar. Não entramos na cidade de Antofagasta, seguimos pela carretera 5. A uns 20 quilômetros, em La Negra, nos informaram que o próximo posto de combustíveis fica a 190 quilômetros, em Água Verde. Na verdade, Água Verde fica a 215 quilômetros de La Negra. Cuidado com a autonomia de sua motocicleta.

Paradinha pros cavalos beberem água no Atacama
Argentina e Chile – o nosso Velho Oeste

Reabastecemos e fomos em direção a Taltal, à beira do Pacífico. Balneário muito bonito, prédios de madeira, tudo bem cuidado, ruas com calçadas coloridas, uma ampla praça central. Pôr do sol magnífico. O hotel, La Tampi, fica a uma quadra da praia. Construção simples, com detalhes sofisticados e de bom gosto. Muitos estrangeiros se hospedam lá, vindo ou indo para São Pedro de Atacama . Às 5h30min escuto o barulho do mar. Forte cheiro de maresia, tal intensidade nunca percebi em nenhum lugar de Florianópolis.


15,16 e 17 de março – Taltal Km 3883 – La Serena Km 4538 – Rancágua Km 5125
Desde Jujuy, temos encontrado um casal de Porto Alegre – o Rogério e a Lu – e o Renato, de Mogi das Cruzes (SP), nas paradas para abastecer. Em La Serena, ficamos todos no mesmo hotel. No dia anterior, em Taltal, o casal dormiu em outro hotel e não nos encontramos. Muita troca de informações, roteiros diferentes no começo, depois vão convergindo. Desde a saída de São Pedro, foram três dias de muita estrada, sempre mais de 580 quilômetros por dia. O percurso é divertido. Volta e meia passamos por Harleys de grupos de até 10, mas também há muitos solitários, indo e voltando. Quando passamos por Santiago, ao largo, rumo ao sul, foi fácil. É só seguir as indicações – sur-sur-sur. Uma ampla avenida expressa. Logo chegamos a Rancágua,na maior pauleira. Não tinha comentado sobre a chegada em La Serena, vindo do norte. Uma descida fantástica, algo parecido com o Rio do Rastro, só que nos Andes. Logo vai aparecendo o Pacífico e suas enseadas – praias de pedras, com os reflexos do sol se pondo no fim da tarde.



18 de março de 2009 – Lican Ray - 5888 quilômetros

Dia lindo. Saí de Pucón no final da manhã e logo cheguei em Lican Ray, à beira do lago Calafquen, é mais típica, mas também, daqui a pouco, vai virar a mesma coisa. O Ernani, o Rogério e a Lu ficaram em Pucón. Vamos nos reencontrar em Vila La Angostura, na Argentina, e depois “socar a bota”para o Brasil. Vou para Chiloé. Quero fotografar as igrejas de madeira. Encontro muitos viajantes pela estradas, e sempre acontece muita troca de informações. Encontrei um casal de ciclistas de alemães, que está voltando de Chiloé. Fiquei mais motivado.


Road Movie – O Chile é uma espécie de Califórnia para os “cowboys” brasileiros

Encontramos com o Rogério e a Lu em Jujuy, antes de cruzarmos para Susques. Eles iriam para Humahuaca, a 70 quilômetros, para voltar e ir para Susques via Purmamarca. Também estavam lá o Diego e o Nicolas, com suas vespas, que havíamos encontrado abaixo de chuva, cruzando de Salta para Jujuy, dois dias atrás, via La Corniza.
Em São Pedro, o Ernani e eu, ficamos três dias. Um dia atrasados, o Rogério e a Lu ficaram dois, mas acabamos não nos encontrando na cidade. No dia 14, saímos de São Pedro o Ernani e eu, o Rogério e a Lu, o Renato e o pessoal das Harley Davison, do Rio de Janeiro. Na estrada, encontramos o Renato que ia para Chañaral. Nós ficamos 100 quilômetros antes, em Taltal. O Rogério e a Lu dormiram em Taltal também. Pela manhã, em direção a La Serena, nos encontramos na estrada. Foi muito legal – troca de informações de estradas do Chile e da Argentina, rotas diferentes. Em La Serena, ficamos no mesmo hotel. No dia 16, o Renato tocou para Mendoza. O Rogério e a Lu ainda o viram durante o dia nos Copec para abastecer.
Tocamos, o Rogério, a Lu, o Ernani e eu para Rancágua. Chegamos cedo e demos um trato nas “bichera” – troca de óleo, ajustes etc. Voltamos a pegar a estrada no dia 17 e logo encontramos o casal em um Copec, tomando café da manhã. Rumamos para Pucón. Chegamos a Pucón por volta das 17h, passando por Villa Rica, o velho vulcão. Maravilha.
É muito legal encontrar as pessoas na estrada. Às vezes, a gente fica para trás, pelo cansaço e o sono e paramos. Depois de um tempo, na estrada novamente, passamos por um posto de gasolina e lá está a moto do Rogério, do Ernani ou do Renato. Sente-se uma espécie de conforto, de aconchego, não estamos tão solitários no meio daquele deserto.

19 de março de 2009 – Km 5888 – Saída de Lican Ray – Panquipulli – Los Lagos.
Esta viagem começou com um convite do Ernani de irmos a São Pedro de Atacama. Não era bem o que eu queria. Eu tinha uma dívida comigo, desde a viagem com a Beth, em 1994, de não ter ido à Ilha de Chiloé, local que não era do interesse do Ernani. Negociamos de ir até Pucón. No dia 18, no café da manhã, combinamos caminhos diferentes: o Ernani vai ficar na região de Pucón e eu vou para Chiloé. Acho que em nenhum lugar do mundo me reservaria três dias de maior satisfação.
Lago Calafquen, Lican Ray, Chile

No primeiro dia (18), fiquei em Lican Ray, um lugar pequeno, pouca gente, alguns ciclistas alemães – conversas, trocas de informações sobre rotas. No dia 19, muito cedo, ainda escuro, parti para Chiloé. De Lican Ray a Ancud são 393 quilômetros. Um bom trecho de estrada secundária.Chegando a ruta 5, chuva fina até a uns 20 quilômetros de Ancud. Depois o céu limpou, muito sol. Nunca vi uma cidade tão bonita.Arquitetura em madeira, feita com muito bom gosto. Rodei pela orla – costanera -, subindo e descendo colinas, até que achei uma hostal simpática e resolvi ficar por lá. Almocei na hostal – sopa e um pastelão de batatas e carne, acompanhados por um copo de vinho. Saí pela cidade, o sol iluminando tudo, realçando as cores da cidade. Passei no mercado público, com muitos restaurantes – mariscos, salmão, comida barata. Queria ter um estômago enorme para provar de tudo. Depois de muito caminhar pela cidade e bater muitas fotos, voltei ao mercado para jantar. No hotel, peguei informações sobre os locais das igrejas de madeira, mapas, roteiros.

20 de março de 2009 – Km 6281 – Saída Ancud
Cedinho, rumei para Castro, também muito interessante. De chegada, surgem as palafitas, características da cidade. Rodei até o mercado e vi umas pessoas comendo uma espécie de sopa, feita de ouriço e almeja (tipo de marisco), cozidos no limão e temperos. Delicioso.

"Almeja y erizo", em Castro na Ilha de Chiloé

De Castro, meu último ponto ao sul, depois de 6.361 quilômetros rodados, retorno rumo ao norte e passo por outra ilha, Achao, que faz juz ao nome. A cidade é muito dinâmica, longe pra caramba. Fotografo a catedral de madeira e volto para Dalcahue para fotografar a igreja da cidade. Dizem que na Ilha de Chiloé chove praticamente todos os dias, mas logo o céu fica limpo e abre o sol. Tive a sorte de dois dias de muito sol, fora a chuva do primeiro dia pela manhã. A ilha é muito povoada, tem muita atividade e a estrada é muito movimentada. O serviço de barcos entre as ilhas é eficiente, praticamente sem espera para embarcar.

20 de março fui para Puerto Varas. Cheguei lá pelas 17h e fiquei na Hostal Chocolates, à beira do lago. Fui atendido pela dona Angélica, uma senhora gorda e simpática. Um bom quarto com vista para o lago, do outro lado da rua. Entardeceu e fui, a pé, jantar num local muito longe. A volta por uma longa avenida escura foi um pouco sinistra.

21 de março de 2009 - Saída de Puerto Varas – Km 6616
Villa La Angostura – Km 6864
San Martin de Los Andes Km 6976
Rumo a Osorno e Argentina. Dia muito bonito. Na aduana argentina, termino os trâmites de entrada e aparecem o Rogério e a Lu. Abraços e relatos de passeios, combinamos um almoço em La Angostura.

Antes de chegarmos a La Angostura, lago Nahuel Haupi ao fundo.

Depois do almoço, encontramos o Ernani que havia chegado no dia anterior. Ficamos todos na mesma hostal. La Angostura mudou muito, mas continua com muito charme. Lembro de alguns lugares da viagem anterior. Gosto daqui. Jantamos no El Esquiador – o velho bife de chorizo argentino e um bom vinho nacional. No final valeu como uma despedida foi o último encontro de todos juntos. Pela manhã, o Ernani disse que ia para San Martim. Eu estava com muita vontade de ficar em La Angostura. Saí para alugar uma bicicleta, mas domingo tudo abre mais tarde. Resolvi ir atrás do parceiro. Às 11h, peguei a estrada para San Martim. Muita pedra, 52 quilômetros de estrada horrível. Mas a chegada à cidade foi muito legal, em uma longa descida com um lago abaixo e a cidade vista ao longe. Achei a Babel Hostal, de um jovem portenho – o nome da hostal e alguns quadros são inspirados em Borges. Ele ficou emocionado quando contei algumas histórias do velho brujo.

23 de março de 2009-04
San Martin de Los Andes. Ruby y Su Bici, meu guia, pouco mais de 40 anos, dois filhos, um deles adolescente, mora aqui. O menor ficou com a mãe, em Chicago, onde viveram vários anos. Depois da separação, veio para San Martin. Levou-me para pedalar por caminhos muito bonitos, trilhas em bosques de árvores de espécies patagônicas. Na paz da pedalada e da conversa amena, me lembrei da rivalidade futebolística com los hermanos, se matando atrás de uma bola. Por aqui, não se encontra ninguém. Volta e meia, uma parada para tomar água, comer uma fruta e a conversa correndo solta no meio da paisagem. Me vejo desde muito tempo como um sonhador e encontro uma pessoa como o Ruby, outro sonhador. Me dá muita força. Pedi minha segunda Quilmes de 650 ml, uma delícia (estou escrevendo em um restaurante – depois da pedalada). Escrevo em homenagem ao Ruby e a todos que procuram caminhos fora dos padrões “normais”. Viver com prazer e liberdade.
Por aqui, encerro meu roteiro de viagem, que teve alguns ajustes pelo caminho.
Amanhã, pego o caminho de volta. Agora, a contagem dos quilômetros vai reduzindo. Faltam 3 mil quilômetros, logo mais faltarão mil quilômetros e assim por diante. Até chegar em casa, família, velhos amigos e preparar um novo projeto. Quem sabe o Alasca. É logo ali.



General Roca – 7460 quilômetros – Três Arroyos – Km 8151
A retirada, San Martin, Neuquén, General Roca, Bahía Blanca,Três Arroyos, Buenos Aires “poniendo la pata”, voltar pra casa, cavaleiro solitário, horas e horas de meditação profunda em quilômetros e quilômetros de estradas argentinas.
Surpresa em La Pampa, Três Arroyos. Cidadezinha com muito charme e um belo footing, compro uma bombacha com a sensação de ter encontrado minhas origens gaudérias. Duas Quilmes na Calle Colon. Belas mulheres passeando.


26 de março de 2009
Chegada a Buenos Aires, às 14h, como havia previsto. Ao comprar o bilhete, a atendente pergunta se vou para Montevidéu e digo que vou para Colônia. Saí às 19h30min. Longa espera de quatro horas. Vejo que não tenho o papel de entrada na Argentina. Devo ter me distraído quando encontrei o Rogério e a Lu na aduana perto de La Angostura. Prejuízo: multa de 50 pesos. Agora é tentar relaxar e curtir o fim de tarde no porto, em Buenos Aires, e depois ver o que encontro em Colônia. Na hora do embarque não me cobraram a multa. Beleza.

28 de março de 2009
Quatro dias de muita estrada, saindo de San Martin de Los Andes, ruta 40. Zapala, Nequen, Baia Blanca, Buenos Aires. O Ernani saiu de Bariloche e foi em direção a Mendoza, projeto inicial da viagem dele – “ Tomar uma botella de vino em Mendoza”. Missão cumprida. Não sei por quais estradas ele andou. Tenho notícias de que chega hoje a Rivera. O velho cowboy e sua motocicleta devem andar por perto. Na retirada vim, como dizem os argentinos, “poniendo la pata”, praticamente sem fotos, rodando sem parar, exceto para comer e abastecer. Rodar e rodar. Parar para dormir. No dia seguinte, tudo de novo. Atravesso a Argentina. Em Buenos Aires, pego o Buquerus para Colônia de Sacramento. Chego à noite, me hospedo numa hostal muito animada. Casa antiga, malcuidada, muitos jovens de várias nacionalidades. Planejo ir para Rivera, pouco mais de 600 quilômetros – ruta 1 até Icelda Paullier, ruta 11, a Canelones e ruta 5 até Rivera.
Passo por Durazno, Ituizango, Paisandu, nomes familiares da minha infância, lugares aonde nunca havia passado. Parei para fotografar uma “cachila”, calhambeque abandonado no campo.

Cachila no Uruguay

Parei num remate de novilhos e ovelha.
Chegando em Paisandu, notei a mudança da paisagem. Milhares de pinheiros, plantados em terras compradas pela fábricas de papel européias. No meio da paisagem, fotografo uma árvore nativa. Chego a Rivera direto ao hotel Uruguay-Brasil, deixo as coisas no quarto, e antes de tomar um banho, caminho pela Calle Sarandi atravesso a fronteira e piso no solo brasileiro.
Logo chegarei de volta a Florianópolis com 10240 Km rodados.